Lá atrás, onde nasci, mandioca era comida de pobre. Até entrar na gastronomia primeiro-mundista como uma gulodice exótica. Assim promovida, a farinha ganhou direito a fritura, para acrescentar textura a feijoadas e outras iguarias. Enriquecida com leite, ovos, açúcar e frutos secos, ganhou comenda de sobremesa. Cortada em nacos, palitos ou rodelas, faz as vezes das frites com sotaque. Mas lá atrás, onde nasci e onde sempre foi sinal de abastança, comida de pobre era a folha verdinha, que também se transformava em prato de resistência.
Lá de trás, onde nasci, trouxe a memória dessas folhas e do cheirinho que subia dos potes de barro ou das latas de azeite recicladas em trem de cozinha por cima do lume. E não resisto a uma lata de folha de mandioca encontrada por acaso na prateleira de um qualquer continente ou jumbo. Ainda tinha uma à mão no outro dia e preparei-as para um jantar com convivas especiais.
Cebola e alho picados e alourados em óleo de palma na frigideira, misturam-se as folhas escorridas durante um bocado para ganhar sabor. Salga-se ligeiramente, não muito que o sabor é amargo, sobretudo para quem não se familiariza às primeiras com as pequenas estranhezas do exotismo.
Mistura-se sumo de uma laranja grande, acrescenta-se coco ralado e deixa-se cozinhar em lume brando uma dúzia de minutos.
É delicioso como entrada, com paparis ou bolachas salgadas, e como acompanhamento. O sumo de laranja também se pode substituir por iogurte, leite ou natas. Com umas rodelas de banana fica divino.
(Esta é para vós, gente especial de Aveiro, em modesta forma de retribuição dos incríveis grelhados de carne e peixe que aí me caem no prato como vindos dos céus.)